quarta-feira, 6 de março de 2013

EUPHÔNICOS

Artigo publica originalmente no jornal A Gazeta, na Coluna: Lá e Cá

“Desde a longa noite dos tempos, desde que o homem é homem, canções nos juntam numa oração, nos reúnem em comemoração, nos explicam na solidão e nos encantam quando o amor desperta a beleza que acende nossos olhos e torna a alma liberta...
Canções nos chegam inesperadamente, pra lembrar histórias antigas que ainda nem ouvimos. Por isso, atenção! Suspenda o nariz, apure o faro, porque é breve o tempo que caminhamos lado a lado.”

Esse é o trecho inicial da poesia - ou música falada, segundo o Aarão - que abre o primeiro EP do “Encontro Musical Euphônicos”. A imponderável reunião de um rockeiro, um sambista e um historiador, batizada com esse nome esquisito, mas que tem nos dado muito prazer. E, como sou o historiador da turma, vou ter que registrar aqui, hoje, como se sucedeu essa doidice que lançamos na grande rede internética ontem.

É o seguinte: no início de 2011 o Senador Jorge Viana montou sua equipe no gabinete do Acre com uma mistura, no mínimo, inusitada. Assessores, técnicos e gestores com características muito distintas entre si, que resultou num ambiente de trabalho bastante criativo e com grande ênfase na comunicação, não no sentido usual, mas, através das mais diversas linguagens.

Não demorou muito pra que desse encontro surgissem parcerias inesperadas. Como, por exemplo, o programinha de rádio chamado “Papo ou História” que eu e Aarão Prado temos feito na Aldeia FM, para contar de forma bem humorada trechos da rica história do Acre. Ou mesmo, essa coluna aqui, “Lá e Cá”, que recebe colaborações eventuais de quase todos os que trabalham no gabinete e trata dos mais variados assuntos como política, futebol, história, opinião, crônicas do cotidiano, etc.


Entre um trabalho e outro, inevitáveis conversas sobre preferências musicais, em especial a sonoridade extraordinária das músicas do Beirute e do havaiano IZ, cujo único elemento comum é o pequeno violãozinho chamado Ukulele. Até que o Aarão endoidou e encomendou um desses pela internet. E foi amor a primeira vista, ou audição. Pense num instrumentozinho melodioso esse Ukulele, dá pra tocar de tudo e sempre fica bonito. Tanto o Brunno, quanto o Aarão começaram, então, a tirar várias músicas, as mais variadas que vocês possam imaginar: de Los Hermanos à My Way de Frank Sinatra. E logo sentiram uma irresistível vontade de compor alguma coisa nova. Foi ai que eu entrei.

Eles sabiam que eu estava num surto incontrolável de escrever uma poesia atrás da outra, devido a uma radical transição que andava vivendo. Por isso me pediram uma poesia pra tentar musicar e eu lhes dei logo umas seis ou sete. Mas o Brunno cismou com a primeira que havia escrito nesse meu surto particular e, mesmo o Aarão discordando da escolha, não teve jeito de fazê-lo mudar de idéia.


E foi muito legal vê-los compondo, adaptando os versos, juntando melodias e harmonias que encaixassem com a métrica e o sentido dos versos. No meio disso tudo, todos nós do gabinete dávamos pitaco na composição: Assim fica melhor! Porque não faz daquele jeito??!! Até que nasceu a música Velhanova Rebeldia.

Daí foi impossível resistir à tentação de inscrever Velhanova Rebeldia no “Festival Sons da Cidade” promovido pela Fundação Garibaldi Brasil no aniversário de Rio Branco, em dezembro do ano passado. Pra mim que nunca havia pensado em fazer nada na área da música, até porque não toco e nem canto absolutamente nada, foi muito legal viver o clima característico de um festival.
 

Arranjar a musica, ensaiar, encarar a eliminatória e depois a final, com votação popular e tudo. É obvio que não tínhamos nenhuma outra pretensão, além do desejo de ficar entre os doze primeiros colocados e ter a oportunidade de gravar nossa musica no CD que será produzido pela FGB esse ano. Mas, o que parecia impossível aconteceu: Aarão e o Brunno fizeram uma apresentação memorável e empolgante na etapa final do Festival e... ganhamos! Iuuuurrrrrruuuuhhhhh!!!!!

Bem, daí se tornou impossível resistir à tentação de fazer outras músicas. Menos até por ter ganho o festival, na verdade. Mas, pelo que a experiência de compormos juntos e vivermos toda essa construção coletiva nos proporcionou de prazer e de vontade de descobrir novas possibilidades musicais e poéticas. Assim, começamos a reunir personagens e histórias, nossas e de outros, como mote para novas canções. Assim surgiu uma canção-homenagem ao nosso Mestre Cacá, que se chama “É Terno”, que o levou a fazer uma poesia que gravamos junto com a música dele.


E pra encurtar a história. Já são seis musicas compostas até agora, fora mais duas que estão em pleno processo de construção e uma infinidade de outras idéias que não param de surgir a todo instante. Por isso decidimos enfiar a cara e gravar logo todo esse material. Mal sabia eu que isso seria outra trabalheira danada. Juntar músicos, contratar o estúdio, bolar arranjos praquilo que foi feito só com Ukulele (a base de tudo) e voz, entrar no estúdio e gravar um instrumento de cada vez... Enfim, todo um rico universo de trabalho que eu nem desconfiava que existisse.

Importante ressaltar. Hoje Rio Branco tem um estúdio que não fica nada a dever, em qualidade, aos melhores do país. É o GD estúdio do Juliano Gondim, que é, ele próprio, como seu estúdio, um cara da melhor qualidade. E que acabou se envolvendo no projeto a ponto de colocar flauta na musica do Cacá e sax na música “Se é de lágrima”, lindamente, bem no clima do que estávamos fazendo. Horas e horas de edição em que muitos ótimos músicos acreanos estiveram ali, junto com a gente, também dando seus pitacos e nos emprestando seus talentos.


Assim, depois disso tudo, ontem, lançamos, através da internet, o resultado dessa loucura coletiva. A idéia é que no blog www.euphonicos.blogspot.com e pela Fan Page www.facebook.com/euphonicos as pessoas possam baixar de graça as músicas. Quem sabe, no futuro, com mais músicas compostas, a gente não consiga gravar um CD físico e montar um espetáculo misturando poesia, teatro, cinema e, obviamente, música...

Sei lá... Só sei que no meio dessa confusão toda, estou adorando a experiência de poder não só contar histórias, mas agora também poder... cantar histórias.

OBS: Faltam poucos dias pra encerrar a campanha pro lançamento do Livro do Chico Pop de que tratei aqui na semana passada. Quem ainda não comprou seu kit... faça-o logo... pois ta pra acabar!!!

Marcos Vinicius Neves é historiador (mvneves27@gmail.com)